Chegamos ao terceiro episódio da segunda temporada, mas a sensação é de estarmos andando em círculos e de volta ao ponto em que terminou a última temporada. Isso acontece porque o roteiro ainda quer apresentar os lados do conflito e, nesse caminho, perde toda a construção que fizera anteriormente. Este episódio exacerba o quanto a produção de Ryan Condal tem apoiado-se nessa ideia: se anteriormente isso nos fazia refletir sobre como os fatos da Dança realmente se desenrolaram, agora deixa nítido as margens que separam o material de “Casa do Dragão” dos escritos de George R.R Martin. Se em algum momento isso foi visto com bons olhos, agora os questionamentos prevalecem.   

Os personagens que mais sofrem com essa escolha são Rhaenyra e Rhaenys, presas a uma esperança que não existe mais. Quando Viserys e Lucerys morreram, as sementes da guerra germinaram. mesmo assim a Rainha que nunca foi insiste na ideia de ver compaixão nos Verdes e tentar reter uma ameaça que já está consolidada. A esposa de Corlys parece querer reter a guerra a qualquer custo e assim oferece um lado de Rhaenyra que nunca existiu — o de conciliadora — e que alimenta uma visão patética de sua liderança.   

A Rainha de Pedra do Dragão está sempre desamparada diante dos lordes que compõem o seu conselho, externando vulnerabilidade como se fosse dependente da condução deles ou de homens. Nesse sentido, a posição e o receio de Rhaenys contribuem para enfraquecer sua posição por diluir a confiança e a segurança da mãe de Jacerys, como se a Rainha que nunca foi quisesse enjaular o dragão, o que, infelizmente, consegue nesse episódio, e toda vez que a afasta de Daemon. Me indago, em vários momentos, se tivéssemos um homem no lugar de Rhaenyra, se o tratamento seria de forma semelhante, com certeza não, afinal fragilidade tem nome de mulher.   

 

Por outro lado, gosto de como a dupla Targaryen de mulheres preteridas ao Trono é quem realmente pensa as questões de guerra e os perigos que vem com ela. É do diálogo entre as primas que surge o “Quando o desejo de matar e queimar se instaura, os motivos são esquecidos” assim como “a vitória será tão sangrenta que contará como uma derrota”. A visão de ambas é determinante, principalmente porque torna-se um vislumbre do final da Dança dos Dragões, o que torna o conselho que Rhaenys dá a prima mais nova mais estapafúrdio e fora da curva. Entendo que, de certa maneira, a mãe de Laenor está se despedindo de nós e a construção da narrativa procura mostrar suas tentativas de evitar a morte dos dragões e o declínio da casa Targaryen.    

Nesse processo, “Casa do Dragão” tenta dar um protagonismo feminino, mas a forma como o faz é forçada e irritante, além de oferecer um protagonismo não existente a Alicent, a tornando uma figura dependente dos homens que a cercam e tão vulnerável quanto sua madrasta. Devo dizer, contudo, que a percepção de sua confusão ao final do episódio é um dos momentos mais catárticos da lambança que a narrativa fez. Infelizmente, já entramos na canção de gelo e fogo, na amizade entre Rhaenyra e Alicent, na falsa morte de Laenor, então temos que continuar embarcando nesse rolê e esperando o resultado mais condizente com o que temos. Daí minha preocupação com o ritmo imposto pela série e a maneira como a história da Dança está sendo contada.   

Para finalizar, quero destacar Aegon, o verdadeiro rival de Rhaenyra. Tom Glynn-Carney tem empregado uma tridimensionalidade precisa ao personagem, sua expressão diante do espelho deixa nítido o quão farto está de toda essa situação real. Aegon é fraco, inseguro, quer mostrar força por meio do visual e está consciente da própria fraude que é. Mais uma vez não vale a pena falar de Criston Cole e nem de Daemon, que segue preso a tentativa de se provar um bom consorte, mas continua distante de acertar e entender as perspectivas que se formam ao seu redor. Em meio a um episódio fraco, cheio de incertezas e ritmo irregular, as histórias seguem se espalhando e as versões sendo criadas.