Momentos antes da exibição de “A Queda do Céu” no Festival de Cannes 2024, os realizadores Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha deram a palavra ao líder Yanomami Davi Kopenawa. Em um movimento semelhante ao do documentário, a voz que conta a história no palco é a dele, como representante não apenas de uma nação, mas do que é a permanência de resistir. 

Baseado no livro homônimo do xamã junto ao antropólogo francês Bruce Albert, o filme aposta no poder das imagens para levar o espectador a uma aldeia Yanomami e na força das palavras para que esse exercício não seja carregado pelo olhar que busca o exótico. 

O documentário de Eryk e Gabriela é construído com uma grande capacidade de observação. Somos conduzidos a uma história de sobrevivência. Mais que premonitória, a revolta do céu e a resposta da natureza para cada invasão branca às nações dos povos originários são reflexos urgentes de um mundo que se destrói. 

Em contraste, a vida continua a se renovar ali – “os Yanomami [sobrevivem] porque vivem juntos” -, apesar da catequização, do desmatamento em nome do que se chama de progresso, das guerras e de uma pandemia que, só no Brasil, matou mais de 600 mil pessoas.  

Entre os sons da floresta e da rotina da aldeia, “A Queda do Céu” não se prende à preocupação de ser um “filme importante”. Sim, é um documento de uma nação e de uma grande fração da história do Brasil, mas, mais que isso: é a rendição ao texto que conversa com as imagens, sem parecer um mero recorte de frases de efeito.