Eu não me lembro de ter encarado a saída de emergência de uma sala de cinema por tanto tempo e com tanta força antes. 

A princípio a gente até acha que o problema de “Mallandro – O Errado Que Deu Certo” é um mero erro de cálculo. Isso porque, vá lá, a ideia de um Sérgio Mallandro sóbrio, que não só não é levado a sério na vida real como também é um completo fracasso, é relativamente interessante. E é partindo dessa ideia que o longa tem início, de modo que o espectador pode até ser perdoado por pensar estar assistindo a um filme de verdade. 

Qual seria o erro de cálculo em questão? Ora, o filme parece saber que Sérgio Mallandro é uma figura profundamente patética. Mas se esse é o caso, então por que a insistência em reprisar seus “greatest hits” – a repetição infindável de seus bordões e de toda sua gritaria intragável? O nome do próprio Sérgio Mallandro como um dos roteiristas talvez ajude a explicar: em termos de projetos de vaidade, poucos são tão incompetentes.

Incompetente? Aqui vai um exemplo: em uma cena, Mallandro se vê relutantemente obrigado a trajar suas vestes de príncipe oitentista, apenas para aparecer sorridente cantarolando a música-tema de “Lua de Cristal” no momento seguinte, sem nenhum sinal do desconforto de instantes antes. É estranho.

INSUPORTAVELMENTE SEM GRAÇA

Não é só Mallandro que é bipolar. Todos os personagens parecem compartilhar dessa grave doença, alterando o comportamento ou a percepção sobre o astro de uma hora para a outra. Exemplo: o produtor de TV que parecia extremamente entusiasmado com nosso ignóbil protagonista até então se mostra, de repente, bastante irritado quando Mallandro entra no escritório e começa a agir como… Mallandro. A chefona do canal, por sua vez, vai do fascínio à irritação ao entusiasmo por esse velhaco fracassado em questão de segundos, sem nenhuma razão aparente. 

O próprio filme não parece saber o que quer, ao ponto em que eu também já não sabia se uma cena em que Mallandro, sôfrego, tenta sem sucesso proferir seus ié-iés na frente do espelho deveria ser levada a sério ou não. Seria o filme uma paródia de uma dessas cinebiografias manipulativas? Bizarramente não parece ser o caso, como a segunda metade da projeção deixa claro.

Porque é então que “Mallandro – O Errado Que Deu Certo”, que já havia deixado de ser engraçado há uns bons 45 minutos, tem a pachorra de tentar nos comover com a inserção de um super-fã de Sérgio Mallandro: uma adorável criancinha com câncer. É através desse pequeno herói enfermo que nosso atrapalhado protagonista descobre que tem, sim, valor neste mundo. Os pormenores da coisa toda são patéticos demais para narrarmos aqui, mas fica claro, então, que não se tratava de erro de cálculo coisíssima nenhuma: Sérgio Mallandro aparentemente não só se acha engraçado, como é narcisista o suficiente para pensar que seu filão constrangedor de “humor” pode tornar o dia de algum ser humano melhor.

Bom, talvez eu seja o problema: como o filme deixa claro durante os créditos finais, o artista lota casas de show por todo o país com seu extremamente bem sucedido espetáculo de stand-up. Enquanto crítico de cinema, no entanto, posso dizer com segurança que “Mallandro – O Errado Que Deu Certo” não só é uma das coisas mais irrevogavelmente estúpidas que já vi, como, pior de tudo, é ainda trágica, profunda, insuportavelmente sem graça.