Caio Pimenta apresenta os seus favoritos para os Oscars de 2004 e 2005, anos das consagrações de “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” e “Menina de Ouro”.

OSCAR 2004

o senhor dos anéis o retorno do rei

“O Retorno do Rei” eclipsou uma temporada muito boa em 2004. Além do épico do Peter Jackson, havia ainda os excelentes “Encontros e Desencontros”, da Sofia Coppola, e “Sobre Meninos e Lobos”, do Clint Eastwood e o muito bom “Mestre dos Mares”, do Peter Weir. Destoava apenas “Seabiscuit”, o qual poderia tranquilamente rodar para a entrada de do primeiro “Piratas do Caribe”, “21 Gramas”, “Terra dos Sonhos”, “O Último Samurai” e, acima de tudo, “Cidade de Deus“. 

Para começar nas categorias técnicas, o domínio de “O Senhor dos Anéis” seria grande, mas, sem ser absoluto. 

A despedida da saga de Frodo levaria com facilidade Efeitos Visuais, Figurino, Maquiagem, Direção de Arte, Som e Trilha Sonora. Já edição de som seria de “O Mestre dos Mares” e Canção Original com “As Bicicletas de Belleville”, enquanto Filme de Língua Não-Inglesa permaneceria com “As Invasões Bárbaras” e Animação com “Procurando Nemo”. 

Claro que não deixaria “Cidade de Deus” sem estatuetas: para mim, o filmaço brasileiro levaria Direção de Fotografia com o César Charlone e Montagem com o Daniel Rezende, justamente o que a obra-prima dirigida pelo Fernando Meirelles e Kátia Lund tinha de melhor. 

Em Roteiro Adaptado, fico com “O Retorno do Rei”. Seria uma vitória tanto para consagrar todo o trabalho feito com brilhantismo durante a trilogia como pelos próprios méritos do terceiro filme ao conseguir abordar tantos personagens e tantas histórias de maneira altamente unificada sem esquecer nenhuma ponta sequer.  

Também acho impossível tirar o Oscar da Sofia Coppola de “Encontros e Desencontros” em Roteiro Original. O trabalho dela sobrava na categoria ao conseguir traduzir o inquietante estado provocado pelo jetleg a partir de dois personagens melancólicos e fascinantes. Um dos mais lindos roteiros dos anos 2000. 

Já em atuações, eu mudaria os resultados 100%. 

Atriz Coadjuvante não era a categoria mais disputada, mas, considero levemente exagerada a vitória da Renée Zellweger pelo esquecível “Cold Mountain”. Para mim, a ganhadora seria a Shohreh Aghdashloo prestigiando o subestimado “Casa de Areia e Névoa”. 

Sei que o Tim Robbins já fazia por onde ganhar Ator Coadjuvante e ele está ótimo em “Sobre Meninos e Lobos”, mas, por mim, o Djimon Hounson levaria o Oscar. No excelente “Terra dos Sonhos”, o ator encarna uma figura que transpira bondade e gentileza na interação com a protagonista. Talvez o melhor papel dele no cinema americano. 

Somente a cena da notícia da morte da filha no drama do Clint Eastwood já valeria o Oscar do Sean Penn, porém, o que o Johnny Depp faz como Jack Sparrow no primeiro “Piratas do Caribe” é absurdo. Aquilo que poderia ser exagerado e até ridículo, nas mãos dele, se transforma em uma figura nada confiável, engraçada e sedutora – tudo isso ao mesmo tempo. Uma atuação que representou o surgimento de um ícone pop. 

Charlize Theron em Melhor Atriz por “Monster” é um resultado incontestável para 9,9 de 10 cinéfilos e críticos. Fico sendo o 0,1: gosto sim do trabalho da sul-africana, porém, minha favorita era a Naomi Watts. Em “21 Gramas”, ela encarna todo o peso dramático do longa dirigido por Alejandro González Iñarritu, sendo a melhor do trio de protagonistas. 

Melhor Filme e Direção é covardia: lembro de assistir “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” no dia 25 de dezembro de 2003 e sair da sala sabendo que ali estava o ganhador do Oscar. E não era apenas pelo óbvio favoritismo que se desenhava, mas, principalmente, pela capacidade do Peter Jackson e todo time em dar o tom épico e de despedida do filme unindo tudo o que fora visto em “A Sociedade do Anel” e “As Duas Torres” de forma perfeita. 

Junto com “Avatar”, acredito que “O Senhor dos Anéis” seja a mais bem trabalhada franquia de Hollywood neste século. 

OSCAR 2005

Se a Academia quisesse, poderia ter o Oscar 2005 ser o maior de todos os tempos. Não que a seleção de finalistas estivesse ruim, mas, olha quem ficou de fora de Melhor Filme: “Antes do Pôr-do-Sol“, “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, “Diários de Motocicleta”, “Closer”, “Colateral”, “A Queda”, “Shrek 2” e “Os Incríveis”. Mesmo se fossem 10 vagas seria pouco. 

Da turma que foi indicada, porém, tiraria apenas “Ray”, a protocolar cinebiografia com uma atuação maior do que o filme. Já “Sideways” e “Em Busca da Terra do Nunca” eram coadjvantes de luxo para “Menina de Ouro” e “O Aviador”, um dos duelos mais acirrados da história do Oscar. 

Os Incríveis

Por falar na dupla, o belo filme do Scorsese venceria três categorias técnicas no meu Oscar: Fotografia, Figurino e Direção de Arte. Já o Clint sairia vencedor apenas de Melhor Montagem. “Os Incríveis” ganharia para além de Animação: a Pixar levaria ainda para casa Edição de Som e Som. 

A Espanha e “Mar Adentro” que me perdoem, mas, jamais que os alemães perderiam com o excelente “A Queda”. Aliás, imperdoável a esnobada ao Bruno Ganz em Melhor Ator. Maquiagem iria para “Desventuras em Série” e o grande cantor uruguaio Jorge Drexler não apenas ganharia o Oscar de Canção Original como iria poder cantar “Al Otro del Río”, de “Diários de Motocicleta”. 

Se a Academia fez “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” bater “O Aviador” em Roteiro Original, não serei eu que fará o contrário. Por outro lado, eu daria um tempinho para “Menina de Ouro” e consagraria Julie Delpy, Ethan Hawke e Richard Linklater em Roteiro Adaptado indo para “Antes do Pôr-do-Sol”. Aliás, o romance ambientado em Paris ter apenas esta indicação é inacreditável: tinha espaço em Melhor Filme, Direção, Ator e Atriz e ainda Canção Original. 

O Clive Owen e o Thomas Haden Church seriam bons adversários, mas, em Ator Coadjuvante, manteria a vitória do Morgan Freeman. Primeiro pelos longos serviços prestados e segundo pela atuação em si, mas, uma vez silenciosa, mas, carregando uma profunda sabedoria. 

Ainda não seria desta vez que a Cate Blanchett levaria o Oscar: basta a Natalie Portman andando ao som de “The Blower´s Daughter” para saber que Atriz Coadjuvante era dela. 

Quem disse que não teria “Titanic” de novo? O Oscar 2005 consagraria Leonardo DiCaprio e Kate Winslet juntos: ele por “O Aviador” em um personagem complexo e cheio de nuances, enquanto ela está inesquecível em “Brilho Eterno”. Mas, não acho a vitória da Hilary Swank absurda, muito pelo contrário. 

Clint e “Menina de Ouro” são imbatíveis, respectivamente, em Direção e Filme. Dentro da estrutura clássica tão costumeira do cinema dele, o eterno Dirty Harry subverte a premissa inicial de um drama esportivo sobre superação à la “Rocky” para uma história profunda sobre um tabu da sociedade atual com pano de fundo religioso e moral dividindo os personagens. Não à toa se impôs para cima de “O Aviador” de forma inesperada para ser consagrado no Oscar 2005.