A seleção do Festival de Cinema da Amazônia – Olhar do Norte 2023 traz um destaque para o cinema indígena Yanomami. Os curtas roraimenses “Mãri hi – A Árvore do Sonho”, de Morzaniel Ɨramari, e “Thuë pihi kuuwi – Uma Mulher Pensando”, de Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami, competem na Mostra Amazônia, enquanto “Yuri u xëatima thë – A Pesca com Timbó”, de Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami está na Mostra Panorâmica.

A passagem pelo evento em Manaus acontece antes de um momento importante para as três produções. Em 4 de setembro, acontecerá o “Eyes of the Forest”, Olhos da Floresta, durante o tradicional Festival de Veneza que exibirá os curtas-metragens Yanomami, na Sala Laguna. Será um dia dedicado ao Primeiro Cineasta Yanomami Morzaniel Ɨramari e ao Cinema Indígena Yanomami no Brasil. 

“Mãri hi – A Árvore do Sonho” também está na disputa do Festival de Gramado deste ano. Foto: Morzaniel Iramari

Vencedor do É Tudo Verdade e já qualificado para a disputa do Oscar 2024, “Mãri hi – A Árvore do Sonho” conta com a participação do grande líder e xamã Davi Kopenawa, que conduz o público nessa experiência apresentando o conhecimento dos Yanomami sobre os sonhos. “Este filme vai ajudar a fazer com que os não-indígenas conheçam o povo Yanomami, conheçam as nossas imagens. Assim todos podem conhecer como nós vivemos na nossa casa e como nós sonhamos, como os xamãs sonham”, explica o cineasta.

O registro dos três filmes foi feito na grande casa coletiva de Watorikɨ, na região do Demini (TIY), produzidos pela Aruac Filmes durante as filmagens do longa-metragem “A Queda do Céu”, filme livremente inspirado na obra homônima de Davi Kopenawa e Bruce Albert, dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. Em 2022, a Aruac organizou junto à Hutukara Associação Yanomami (HAY) e ao Instituto Socioambiental (ISA) uma oficina de montagem audiovisual que ensejou a produção dos três curtas.

“Nós, Yanomami, somos habitantes da floresta Amazônica. No Brasil, somos quase 30 mil pessoas. A terra-floresta é nossa mãe e cuida do povo Yanomami. Desejamos viver em paz, com alegria e fazendo nossas festas. Os napë pë (brancos, inimigos) gostam de destruir a floresta e pegar as riquezas da terra. Hoje o garimpo ilegal invadiu nosso território, estamos tristes por perder tantos parentes e ver nossas crianças morrendo por doenças. Nosso rio está sujo de lama e mercúrio, mas nosso território é forte por dentro. Com a árvore do sonho, nós sonhamos longe e os xamãs sonham ainda mais longe, conhecem o canto e a dança dos espíritos, o sonho do rio, o sonho do mundo”, explica Morzaniel Ɨramari, que estará presente na Isola Edipo por ocasião do Festival de Cinema de Veneza, no qual, além de apresentar os filmes, promoverá uma masterclass, ao lado dos produtores Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha.

com apoio de informações de assessoria