Duas coisas se destacam no segundo episódio desta temporada de “A Casa do Dragão”: o luto e as consequências de escolhas. Enquanto no episódio anterior acompanhou-se o luto de Rhaenyra (Emma D’Arcy) e a forma como a filha de Viserys lidou diretamente com a perda do seu filho, o episódio atual aborda como os verdes se comportam na mesma situação. O resultado é um mergulho em consequências desastrosas que perdem de vista o verdadeiro sentido deste capítulo da dança: vingar um filho por um filho. 

Espelhamentos

Nesta construção, é interessante observar como esta temporada tem se comportado como um espelhamento. Haelena (Phia Saban) sofre em silêncio pela morte do filho, tal qual Rhaenyra o fez anteriormente. Enquanto se despede dos brinquedos do filho e entrega a mortalha que teceu para o filhos a sua mãe, a esposa de Daemon (Matt Smith) brinca com seus filhos e lhes entrega um dragão de brinquedo. Esse estilo de narrativa também serve para mostrar a fragilidade de liderança dos dois pleiteantes ao Trono de Ferro. 

Tanto Aegon (Tom Glynn-Carney) quanto Rhaenyra precisam enfrentar as consequências políticas da morte de Jaeherys e, para tal, a forma como seus conselhos se comportam refletem o reinado dos dois irmãos. Aegon sente seu legado ameaçado ao mesmo tempo em que sente as dores de ter um filho assassinado de forma cruel e, apesar de ter sua figura materna próxima, se embala pela frieza e distanciamento que Alicent (Olívia Cooke) sempre destinou a sua prole. Algo bem diferente da recepção calorosa e do enfrentamento de luto de Rhaenyra e Jacaerys (Harry Collet). 

Ao mesmo passo, enquanto Aegon é tratado como imaturo e facilmente engabelado pela mãe e o avô no conselho, Rhaenyra é vista com desconfiança e precisa ter jogo de cintura para tratar as consequências das ações de seu esposo. As duas relações nos entregam os pontos altos do episódio. 

Otto – o adeus à mão

Não podemos esquecer que parte dos eventos que presenciamos tem a influência direta de Otto (Rhys Ifans), o que aponta, de certa forma, a astúcia do velho Hightower, apesar de muitas de suas escolhas serem duvidosas. Como um bom marketeiro político, ele enxerga na morte de seu próprio bisneto a oportunidade de colocar definitivamente o povo a favor dos Verdes, o que teria dado super certo se ele conseguisse realmente controlar o neto e se não houvesse um rancoroso e mal amado Criston Cole (Fabien Frankel) em seu caminho. 

Aegon destrói a maquete de Viserys como um prenúncio de ruptura de tudo aquilo que o pai fora e ele não será e nem quer ser. Comporta-se como a criança que recebeu poder e parte para a guerra sem ponderar o que isso realmente significa. Otto entrega a ele aquilo que solicitara no episódio anterior — a estima do povo —, mas Aegon, tal qual Roboão, prefere ouvir quem lhe dar a oferta mais prazerosa ao seu ouvido. O que resulta em Otto finalmente enfrentar a versão real do neto e, consequentemente, ser expulso do cargo de Mão do Rei. 

Daemon – o adeus a ser rei consorte

O lado dos pretos também enfrenta problemas com o nêmesis de Otto. Rhaenyra e Daemon finalmente colocam-se frente a frente apresentando todas as cartas na mesa com as verdades e os incômodos que pairam sobre eles. Em certo sentido, a discussão é catártica, uma vez que todos os cochichos e opiniões que tivemos sobre seu marido durante a primeira temporada vem a tona nos diálogos da Rainha. Ela o conhece tão bem que prova nunca ter sido enganada pelo seu comportamento e o anseio que carrega de estar no Trono. Se era ela quem tinha a melhor pretensão, era junto a si que ele queria ficar. 

Há uma rachadura entre eles, que já aponta o destino do relacionamento dentro da Dança. Há também uma quebra de confiança, tal qual seu pai, a Rainha não confia mais no marido porque sabe que suas batalhas não são as mesmas e seu ímpeto de destruição é um retrocesso para a forma como planeja administrar o reino. Ainda assim, não podemos esquecer de que ele é uma figura complementar a ela, dando todo o suporte nos itens aos quais ela não tem domínio.

Preciso apontar, no entanto, o quão pouco tempo de tela o personagem tem recebido nesta temporada, seria também porque os verdes tem tido mais abordagem que os pretos? Fica a reflexão. 

O olhar esquecido sobre o povo

Para finalizar, quero elencar algumas coisas que também chamam atenção no episódio. A começar pela cenografia, temos muitas cenas ao ar livre em Porto Real, devido ao cortejo fúnebre, que nos lembra o quanto a cidade é diferente daquela vista em Game of Thrones. As cenas externas em Pedra do Dragão também nos remetem a beleza da ilha vulcânica, como um sopro em todo o contexto político e de guerra que a série nos apresenta. 

Nesse contexto, temos finalmente cenas com a presença da plebe. Helaena diz à mãe que não quer se aproximar do povo porque não os conhece, o indício do distanciamento da Coroa daqueles a quem governa, mas também da nobreza que sempre acompanhamos na série das figuras que estratificam a sociedade westerosi. Vale lembrar que como a dança tem a plebe em sua conjectura, a série começa nos introduzir esses personagens, mostrando um lado que nunca vimos anteriormente dentro dos sete reinos. O que nos lembra o quão distante do povo e da realidade estão os líderes da Dança dos Dragões.

Por fim, a morte dos irmãos Cargyll é o maior reflexo de como a “Dança” se organiza. De um lado, o irmão de Verde se apresenta para lutar pela culpa e hipocrisia de Cole (a quem me recuso a dar ibope na crítica desta semana), enquanto Erryk luta para defender a vida da sua Rainha. Mostrando claramente o caráter dos envolvidos na guerra Targaryen.

Os lados estão postos e os espelhos também.