É fácil gostar de “Amarela”. O filme de André Hayato Saito parte de uma memória que talvez tenha sido a primeira grande decepção da minha geração para falar de uma pessoa que, ali no meio, parece que nunca vai se sentir parte de um determinado grupo. Um sentimento que parece particular, mas que, para o espectador, é compartilhado, graças ao poder de empatia que o cinema tem a capacidade de oferecer.

Era a Copa do Mundo de Futebol de 1998. Dia da final. O Brasil parecia caminhar para o pentacampeonato, entre alguns percalços – mas, quatro anos antes, o caminho também não havia sido fácil. Nesse cenário de esperança que só a seleção canarinho poderia proporcionar (e o futuro do pretérito talvez seja uma coisa só minha), uma jovem nipo-brasileira tenta encontrar algum senso de pertencimento. 

O mundo é hostil com Erika (Melissa Uehara). A solidão da garota é quase que um efeito de uma série de micro agressões e, por vezes, assim como o preconceito velado que sofre, ela também parece que não está ali. É a esperança de ver a seleção comandada por Zagallo ganhar pela quinta vez uma Copa que parece alimentar esse pertencimento que ela tanto almeja. 

Para quem lembra daquele dia, é até engraçado ver pelos olhos dos personagens o anúncio de que Ronaldo (até então, Ronaldinho) não iria jogar e depois a decisão de que ele iria entrar em campo como titular. Mas quem dera que a dor fosse apenas por um 3 a 0 em final de Copa do Mundo. No belo filme de Saito, é perceptível em cada olhar de Erika o quão profundas são aquelas feridas e o quanto a solidão é dolorosa, mesmo que motivos para sorrir apareçam de tempos em tempos, como um pentacampeonato para comemorar quatro anos depois.