Crianças crescem e o grande mérito de Divertida Mente 2, sequência do querido filme animado dos estúdios Pixar e Disney de 2015, é ser orgânica e natural. Ora, no primeiro filme, as emoções que viviam na mente da garotinha Riley – especialmente a Alegria e a Tristeza – aprendiam a colaborar juntas e alcançavam um nível de compreensão e amizade mútuas. Era bem emocionante vê-las aprendendo a viver de mãos dadas porque ambas eram necessárias para o bom funcionamento da mente e para a vida de Riley. Era uma noção bonita e apropriada para ensinar às crianças – e a alguns adultos também. Mas, o que aconteceria com essa garotinha quando ela crescesse?

A continuação chega para responder essa pergunta. Quando esta parte 2 começa, Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho viraram uma equipe eficiente e afiada na sala de controle da mente de Riley. Porém, um dia chega o turbilhão da puberdade: Riley começa a gritar, a ter mudanças de humor e sentir vergonha dos pais, e para piorar, quer trocar suas queridas amigas pela turma mais popular. Já a sala de comando passa a ser demolida para a chegada de novas emoções. A Ansiedade, em particular, assume o controle e expulsa nossos heróis, que vão se envolver numa nova aventura pela mente para salvar a essência da personalidade da Riley.

Dirigido por Kelsey Mann, Divertida Mente 2 é, com o perdão da redundância, muito divertido, e com sacadas e momentos brilhantes. A evolução da história e dos personagens faz com que o roteiro possa explorar situações interessantes e, claro, a animação é espetacular. O design dos novos personagens é muito engraçado e criativo e as cenas das partidas de hóquei – esporte da Riley – possuem força e impacto, como se fossem filmadas com pessoas reais. Detalhes como uma espinhazinha no queixo da menina ou a pele translúcida da Alegria, que aparece às vezes em close, servem para realçar o espetáculo.

AVENTURA REQUENTADA

Mas há um problema: na opinião deste que vos fala, a Pixar só conseguiu uma vez produzir uma sequência que superou seu original. Foi com Toy Story 3 (2010). Divertida Mente 2 não foge à regra. Por mais que a história tenha suas qualidades e explore novas ressonâncias emocionais, é um pouco decepcionante que a continuação siga a estrutura do primeiro: de novo temos um dilema para a Riley, de novo os personagens precisam embarcar numa jornada – que repete alguns dos ambientes do original – e de quebra, temos também até a repetição de algumas piadas e gags. Nossos heróis encontram de novo algumas figuras em animação 2D, e vemos as salas de comando de outros personagens.  Por mais que essas cenas sejam engraçadas – o Pochete é um barato – elas não deixam de ter um leve sabor requentado.

E os novos personagens, infelizmente, não registram muito. Tédio e Inveja estão lá no pano de fundo e o Vergonha é engraçadinho, mas as novas emoções dessa sequência acabam não tendo muito espaço na história para se tornarem realmente marcantes.

A Ansiedade, por outro lado, é uma antagonista perfeita, aquela que acredita que está certa e o fato dela ir aos poucos perdendo o controle provoca até um furacão emocional perto do desfecho. É quando Divertida Mente 2 segue seu próprio caminho que o filme mais brilha, explorando a dinâmica provocada pela chegada da Ansiedade, e em algumas noções novas que longa traz. Um momento na chamada Terra da Imaginação, que ganha o aspecto de uma repartição sombria, evoca até lembranças de filmes distópicos como 1984 e Brazil: O Filme (1985), o tipo de referência visual e temática fora da caixa que só vemos mesmo numa produção da Pixar.

Alternando entre momentos brilhantes e outros que parecem com o original, Divertida Mente 2 prossegue com confiança até o seu final que, de fato, consegue ser tocante. Claro, a sucessão constante de piadas e conflitos mantém o público entusiasmado: é o tipo de filme que possui um encanto do qual é difícil resistir. E ele acaba representando uma destilação de muitos conflitos da juventude e começo da adolescência, pelo qual todos nós passamos: momentos de raiva, confusão e solidão que podem moldar como viveremos o resto de nossas vidas. Por abordar isso com criatividade e diversão, Divertida Mente 2 já merece muito crédito. A mensagem é final é muito bonita, por mais que alguns passos da jornada possam ter parecido um pouco familiares.