Dirigido por Jane Schoenbrun, “I Saw the TV Glow” segue a vida de Owen (Justice Smith), um aluno isolado do sétimo ano, que conhece Maddy (Brigette Lundy-Paine), estudante do nono ano, quando a vê lendo um guia de episódios do programa juvenil “The Pink Opaque”. Fascinado pelo programa, Owen se esgueira até a casa de Maddy para assistir a um novo episódio da série que muda todo o rumo de sua vida.

Os dois desenvolvem uma amizade baseada no programa. Owen, cujo pai é superprotetor, tem horário para dormir que o impede de assistir “The Pink Opaque” ao vivo. Maddy, então, grava e envia os episódios para ele. A série é especial para ambos, apesar de ser direcionada a meninas. Owen se identifica com o programa e o utiliza como uma válvula de escape ao longo dos anos, mesmo após o cancelamento. Maddy, por outro lado, sente uma conexão diferente com “The Pink Opaque”. Enquanto Owen se conforma com sua vida através do programa, Maddy é inspirada a fugir e viver a vida de verdade, longe dali. Essa diferença de perspectivas cria um drama entre os dois jovens amigos e leva “I Saw the TV Glow” para um rumo inesperado.

O filme inicialmente entrega uma vibe nostálgica, um coming of age dos anos 90 que parece focar na amizade entre os personagens. Contudo, a série “The Pink Opaque”, que parecia ser apenas um elemento de ligação entre os jovens, acaba crescendo na trama e se tornando um ponto chave para o desenvolvimento da história.

O problema é que “I Saw the TV Glow” se explica demais e tenta parecer mais complexo e inventivo do que realmente é. Comparado ao trabalho anterior da diretora, “We’re All Going to the World’s Fair”, fica evidente uma queda na qualidade.

No entanto, o filme aborda de forma potente a identificação de pessoas que usam séries de televisão, filmes e outros meios de arte e mídia como válvula de escape durante a juventude e vida adulta, algo que ressoa profundamente comigo. A diretora capta essa experiência de maneira brilhante, além de explorar questões sobre entender quem somos e o que devemos fazer na vida. Não à toa muitas críticas positivas no Letterboxd e em outros sites destacam essa identificação e outros fatores relevantes.

Se deixar levar por essa identificação pode até trazer uma experiência positiva com o filme durante a primeira vez assistindo, fazendo-nos ignorar vários problemas na forma como “I Saw the TV Glow” é construído.

Entre as várias comparações do filme com o trabalho de David Cronenberg, especialmente “Videodrome”, e David Lynch, particularmente “Twin Peaks: The Return”, além de outros filmes como “Donnie Darko”, onde temas como alienação juvenil, uso da mídia como válvula de escape, surrealismo e aceitação do próprio corpo são comuns, “I Saw the TV Glow” falha ao tentar se encaixar demais nessa lista. O filme força elementos estéticos e narrativos que inicialmente agradam ao público, mas depois se mostram superficiais e desnecessários.

Enquanto obras como as de Cronenberg e Lynch utilizam o surrealismo e a estranheza de maneira orgânica para explorar profundezas psicológicas e sociais, “I Saw the TV Glow” parece imitar esses estilos sem capturar a mesma autenticidade e impacto. A tentativa de misturar temas profundos com uma estética elaborada resulta em um filme que parece mais uma cópia do que uma criação original.

Ao invés de desenvolver sua própria identidade, “I Saw the TV Glow” se perde em uma busca desesperada por parecer complexo e inovador, mas sem a substância necessária. O excesso de referências e a dependência de estilos consagrados acabam prejudicando a narrativa, que poderia ter sido mais poderosa se tivesse encontrado uma voz própria.