A unanimidade sobre “Os Paraísos de Diane” parece a de ser que ele começa muito bem. E começa mesmo. De um jeito muito seco e muito direto. Com uma cena de sexo. Um parto. E um abandono logo em seguida. Quando a protagonista que parecia bem com a sua gravidez não parece bem com o que vem depois disso. Entra em um ônibus e vai o mais longe que consegue ir.  

Deixando o passado enterrado. Escondido. Querendo sair sem saber para onde. Sem conseguir articular por quê. Sem falar uma palavra. Assistindo à vida ao redor. 

O que tem de melhor nisso é o quanto o filme articula bem esse aspecto de descolamento de realidade que a depressão pode proporcionar. Ela quer esquecer. Ela quer deixar para trás. Ela não sente nada. Mas o corpo não deixa. O leite que vaza dos seios. As dores persistentes do processo fisiológico que permanecem consigo. Aquela estranha no espelho. Enxergando um corpo que parece não a pertencer. 

Ela muda de espaço. De país. De idioma. Mas é capturada quando percebe uma outra mulher francesa em seu caminho. Buscando uma conexão sem entender qual. Sem entender por quê. Em um processo de perceber ao longo do tempo que talvez não seja toda a sua vida que ela quer deixar para trás. Mas parte dela. 

A proximidade da atriz Dorothée de Koon é muito essencial. “Os Paraísos de Diane” depende dela. Apoia-se nela. Não existe especificamente em um lugar. Mas em uma mulher deslocada no lugar em questão. E mais além. Nas contradições da depressão pós-parto, articula nos seus trejeitos não uma vítima, mas uma mulher que não sabe lidar com a contradição do quanto parece se sentir poderosa apesar de tudo. 

De ver no próprio corpo essa capacidade geradora de vida. Enquanto na realidade material de sua vida rejeita o resultado dessa vida por si, que é o filho ou filha que deixa para trás.  

Sem julgá-la. Quase sem julgá-la. “Os Paraísos de Diane” parece um relato de um momento para si. A saída dela dali. E um retorno. Mas se essa premissa carrega muito por si, o jeito de preencher o filme com suas experiências ou mesmo de decidir os rumos disso não consegue fugir da entropia da banalidade.  

Caindo em muito de lugar comum do cinema “arthouse” europeu contemporâneos. Não conseguindo galgar de verdade uma recompensa dramática. Ou articular as coisas de um jeito que vá fazer jus à forma como o filme se apresenta.  

Por mais que, no fim das contas, os ruídos de “Os Paraísos de Diane” ainda não permitam que a gente se esqueça da potência inicial de sua abertura.