Caio Pimenta apresenta os seus favoritos para os Oscars de 1998 e 1999, anos das consagrações de “Titanic” e “Shakespeare Apaixonado”.

O DOMÍNIO ‘TITANIC’

O primeiro Oscar que acompanhei na vida foi a edição de 1998. Afinal, o grande favorito era justamente aquele filme que me fez ser cinéfilo, um apaixonado por cinema quando eu tinha apenas 10 anos de idade.  

Naquela temporada, o mundo inteiro parou para ver “Titanic” e, logo em seguida, o Oscar 1998. Não à toa foi a maior audiência da história da premiação nos EUA – mais de 57 milhões de espectadores assistiram à consagração do épico do James Cameron. 

E, claro, que se dependesse de mim, “Titanic” levaria tudo no Oscar 98. 

Somente nas categorias técnicas seriam oito estatuetas: Trilha Sonora de Drama com as inesquecíveis composições do James Horner, Canção Original com “My Heart Will Go On”, imortalizada na voz da Celine Dion, Efeitos Visuais, Figurino, Som, a impecável Direção de Arte com a recriação perfeita de época, Fotografia do Russell Carpenter e a Montagem fundamental para o sucesso da obra-prima. 

Faço apenas uma observação: em Melhor Som, se o Oscar fosse para “Contato”, eu não ficaria chateado.

A categoria que abriria mão de “Titanic” seria em Efeitos Sonoros para premiar “O Quinto Elemento”. Também manteria sem maiores dificuldades a estatueta de “MIB” em Maquiagem, de longe, o que a ficção científica com o Will Smith e Tommy Lee Jones tem de melhor. 

Já em Filme de Língua Não-Inglesa, seria bem patriota mesmo e ficaria com “O Que é Isso Companheiro?” até por não ser uma temporada das mais animadoras na categoria. 

Começando as categorias principais, muito difícil tirar de “Los Angeles – Cidade Proibida” o Oscar de Roteiro Adaptado. O trabalho do Brian Helgeland e Curtis Hanson sobrava demais entre os concorrentes, mostrando como o cinema policial vive uma grande fase naquele fim dos anos 1990. 

Apesar do charme inebriante dos galãs Ben Affleck e Matt Damon no momento de revelações, sou mais “Melhor é Impossível” do que “Gênio Indomável” em Roteiro Original. A dobradinha do James L. Brooks com o Mark Andrus consegue construir três grandes personagens bem diferentes e fazê-los se relacionar de maneira formidável, explorando-os em uma trama que surpreende o público pela inteligência e sensibilidade.  

Já nas atuações, não mexeria nos resultados masculinos: o Robin Williams seria a estatueta tanto de consolação para Gênio Indomável” em Ator Coadjuvante quanto para prestigiar um ator que a Academia nunca mais viria a indicar e, claro, Jack Nicholson em Melhor Ator. Sim, ele pode fazer a persona que o consagrou como Melvin Udall, mas, quem manda fazer com tanto charme? Era simplesmente imbatível no Oscar 98. 

Titanic James Cameron Jack Rose

Nas atuações femininas, “Titanic” voltaria a reinar. Entendo o Oscar da Kim Basinger em Atriz Coadjuvante por remeter muito bem às clássicas loiras misteriosos do noir, mas, a sobriedade da Gloria Stuart, ora trazendo leveza ora dando a dimensão exata da tragédia, era a bússola do público no filme. Em Melhor Atriz, a Kate Winslet representaria a vitória de um dos casais mais apaixonantes da história do cinema, uma forma de compensar a esnobada do Leonardo DiCaprio e uma indicação da Academia para o mundo que se consolidava uma atriz brilhante. 

Escolher a Kate Winslet aqui não me faz desgostar nenhum pouco da vitória da Helen Hunt; sim, sou um grande fã de “Melhor é Impossível”. 

Já os Oscars de Melhor Direção e Filme são verdadeiras covardias: como posso dizer algo diferente de “Titanic”?  

Para mim, é uma das obras mais completas do melhor que Hollywood pode servir. Cada centavo do milionário orçamento é bem-empregado em uma história simples, mas, muito bem contada utilizando o aparato mais moderno da época. Isso tudo graças a um maestro obstinado e que lutou para atingir a perfeição. E conseguiu!  

MEUS VENCEDORES DO OSCAR 1998

Melhor Filme: “Titanic”

Melhor Direção: James Cameron, por “Titanic”

Melhor Ator: Jack Nicholson, por “Melhor é Impossível”

Melhor Atriz: Kate Winslet, por “Titanic”

Melhor Ator Coadjuvante: Robin Williams, por “Gênio Indomável”

Melhor Atriz Coadjuvante: Gloria Stuart, por “Titanic”

Melhor Roteiro Adaptado: “Los Angeles – Cidade Proibida”

Melhor Roteiro Original: “Melhor é Impossível”

Melhor Filme de Língua Não-Inglesa: “O Que é Isso Companheiro?”

Melhor Direção de Fotografia, Montagem, Som, Figurino, Som, Trilha Sonora de Drama, Canção Original: “Titanic”

Melhores Efeitos Sonoros: “O Quinto Elemento”

Melhor Maquiagem: “M.I.B – Homens de Preto”

O OSCAR MAIS CONTESTADO DOS ÚLTIMOS ANOS

O Oscar 1999 teve ares de Copa do Mundo no Brasil pela presença do drama dirigido pelo Walter Salles. “Central do Brasil” chegava credenciado pela vitória do Urso de Ouro no Festival de Berlim e no Globo de Ouro. Infelizmente, a noite de 21 de março entrou para a história como uma das mais polêmicas edições da festa, muito graças a Harvey Weinstein. 

De antemão, já digo que passa longe de ser minha temporada de premiações favorita: muitos filmes médios, um ou outro que eu considero realmente bons e alguns bem fracos. Isso torna a lista de vencedores mais equilibrada do que o Oscar 1998. 

Nas categorias técnicas, “O Resgate do Soldado Ryan” seria o maior vencedor ao ganhar quatro prêmios: Som, Efeitos Sonoros, Montagem e Fotografia, especialmente, devido à batalha épica do Dia D na Normandia. Se “Shakespeare Apaixonado” leva Melhor Direção de Arte e Maquiagem, compenso “Elizabeth” com Figurino.  

Em Trilha Sonora de Drama, “A Vida é Bela” mantém o Oscar por falta de opções, enquanto “Vida de Inseto” ganha nas comédias talvez por uma memória afetiva superando a razão. E a Diane Warren já ter uma estatueta por conta de “I Don´t Wanna Miss a Thing”, de “Armageddon”: o hit do Aerosmith é bem mais lembrado do que a insossa “When You Believe”, de “O Príncipe do Egito”. 

“Central do Brasil” daria uma surra em “A Vida é Bela” na disputa de Filme de Língua Não-Inglesa. Não há a menor comparação entre o clássico do Walter Salles e o açucarado drama do Roberto Benigni. Somente o Oscar do fim dos anos 1990 para permitir uma atrocidade daquelas. 

Indo para as categorias principais, eu manteria o prêmio de “Deuses e Monstros” em Roteiro Adaptado, categoria que estava bem abaixo em 1999. Já “O Show de Truman” leva Roteiro Original: o filmaço do Peter Weir foi bastante injustiçado pelas esnobadas ao Jim Carey em Melhor Ator e também em Melhor Filme. Seria uma espécie de justiça a uma obra tão premonitória do que viria a ser o mundo dos reality-shows e das nossas próprias vidas vigiadas por câmeras a todo momento. 

Acompanho a Academia na conquista da Judi Dench em Atriz Coadjuvante. São pouco mais de seis minutos em cena, mas, a estrela britânica hipnotiza a todos ao aparecer e tirar “Shakespeare Apaixonado” do marasmo. “Truman” voltaria a ser premiado com o Ed Harris em Ator Coadjuvante. Seria a consagração do ator no melhor momento da carreira. 

Melhor Ator e Atriz do Oscar 1999 foram duas categorias que envelheceram muito mal na memória de quem ama cinema e da própria Academia. O hype em torno de Gwyneth Paltrow e Roberto Benigni se mostrou artificial e efêmero demais, acabando assim que subiram ao palco. Dali em diante, entraram para a história da premiação como vitórias exageradas e frutos das nocivas campanhas milionárias permitidas para o evento, na qual Harvey Weinstein soube aproveitar como poucos. 

Quando se olha para Fernanda Montenegro em “Central do Brasil”, simplesmente no melhor desempenho da carreira de uma das maiores atrizes da história, e Edward Norton assustador na primeira parte de “A Outra História Americana”, é possível, sem maior hesitação, perceber o tamanho do erro do Oscar. 

E se você não quisesse escolhê-los ainda haveria Ian McKellen e até Tom Hanks entre os homens, e, claro, Cate Blanchett nas mulheres.  

Para fechar, Melhor Direção ficaria com o Steven Spielberg e Filme com “O Resgate do Soldado Ryan”. Dos dois, tenho mais convicção na escolha do primeiro: é indiscutível o brilhantismo como o Spielberg opera as batalhas que abrem e fecham o filme. Já a categoria máxima fica com Ryan por conta dos rivais não serem nada empolgantes. Agora, se “O Show de Truman” estivesse ali entre os finalistas, meu voto seria dele. 

MEUS VENCEDORES DO OSCAR 1999

Melhor Filme: “O Resgate do Soldado Ryan”

Melhor Direção: Steven Spielberg, por “O Resgate do Soldado Ryan”

Melhor Ator: Edward Norton, por “A Outra História Americana”

Melhor Atriz: Fernanda Montenegro, por “Central do Brasil”

Melhor Ator Coadjuvante: Ed Harris, por “O Show de Truman”

Melhor Atriz Coadjuvante: Judi Dench, por “Shakespeare Apaixonado”

Melhor Roteiro Adaptado: “Deuses e Monstros”

Melhor Roteiro Original: “O Show de Truman”

Melhor Filme de Língua Não-Inglesa: “Central do Brasil”

Melhor Som, Efeitos Sonoros, Montagem e Fotografia: “O Resgate do Soldado Ryan”

Melhor Direção de Arte e Maquiagem: Shakespeare Apaixonado

Melhor Figurino: “Elizabeth”

Melhor Trilha Sonora de Drama: “A Vida é Bela”

Melhor Trilha Sonora de Comédia: “Vida de Inseto”

Melhor Canção Original: “I Don´t Wanna Miss a Thing”, de “Armageddon”