Caio Pimenta apresenta os seus favoritos para os Oscars de 2008 e 2009, anos das consagrações de “Onde os Fracos Não têm Vez” e “Quem Quer Ser um Milionário?”.

OSCAR 2008

“Conduta de Risco”, “Desejo e Reparação” e “Juno” são ótimos filmes, mas, muito longe da grande dupla do Oscar 2008: “Onde os Fracos Não têm Vez” e “Sangue Negro” faziam uma dobradinha épica. Se não fosse a Academia querendo, finalmente, prestigiar os irmãos Joel e Ethan Coen, o páreo teria sido mais pesado. 

Antes das categorias principais, porém, hora de falar dos prêmios técnicos. 

Polêmicas à parte se era uma música feita para “Apenas uma vez” ou não, o fato é que “Falling Slowly” mereceu demais vencer Canção Original. Vale lembrar que ela venceu as composições de “Encantada” na categoria. 

O Dario Marianelli, de “Desejo e Reparação”, que me perdoe, mas, Trilha Sonora seria do Michael Giacchino, “Ratatouille”. O Oscar moral daquele ano, entretanto, era do Jonny Greenwood de “Sangue Negro”, mas, que as regras estúpidas da Academia impediram de concorrer. A Pixar ainda levar Melhor Animação sem maiores dificuldade, enquanto Fotografia seria do Robert Elswit do épico do Paul Thomas Anderson.

 “Ultimato Bourne” ficaria com seus três prêmios indiscutíveis – Montagem, Edição de Som e Som -, enquanto os filmes protagonizados por Johnny Depp levariam três estatuetas: “Sweeney Todd” ganharia Figurino e Direção de Arte e “Piratas do Caribe – No Fim do Mundo” levaria Efeitos Visuais. Por fim, “Piaf” vence Maquiagem. 

Se Roteiro Adaptado estava pesadíssimo com o duelo maior da noite, os originais ficavam em um patamar abaixo. Os resultados do Oscar, porém, foram certeiros: irmãos Coen com “Onde os Fracos Não Têm Vez” e Diablo Cody por “Juno”. 

Entre os coadjuvantes, não nem debate com o Javier Bardem, a personificação da morte em “Onde os Fracos Não Têm Vez”. O homem faz gelar a espinha toda vez que aparece simbolizando a violência banalizada dos nossos tempos. Já em Atriz Coadjuvante, por melhor que seja a Tilda Swinton, prefiro a Cate Blanchett: a estrela incorpora Bob Dylan quase como se tivesse baixado um santo de tão perfeito. Fabulosa. 

Já disse aqui no canal que não curto muito a Marion Cotillard como “Piaf” ainda que reconheça os méritos dela. Meu Oscar de Melhor Atriz iria por um caminho menos óbvio: Elliot Page, anteriormente Ellen Page, por “Juno”. 

Lembra do que falei do Javier Bardem? Encaixa-se à perfeição para falar do Daniel Day-Lewis. O Daniel Plainview de “Sangue Negro” é a incorporação do capitalismo que passa por cima de tudo e todos pela força do dinheiro, mesmo que isso signifique a solidão. Um dos maiores desempenhos vencedores de Melhor Ator da história. 

Eu poderia fazer aquele arranjo tão comum da Academia de dar um Oscar de Direção para uma obra e Melhor Filme para outra. E não haveria melhor ocasião do que o Oscar 2008. Minha preferência, entretanto, é por Paul Thomas Anderson e “Sangue Negro”. Justifico a escolha por considerar este o maior trabalho da carreira do PT Anderson, enquanto “Fracos” está um pouco atrás de “O Grande Lebowski” e “Fargo” 

Ainda assim, o resultado real passa muito longe de ser absurdo. 

OSCAR 2009

Não dá para esperar muita coisa de um Oscar que deixou os melhores filmes da temporada fora da categoria máxima. A Academia optou pelos apenas bons “Milk”, “Benjamin Button” e “O Leitor” quando tinha em mãos “O Cavaleiro das Trevas”, “O Lutador”, “Foi Apenas um Sonho” e “Dúvida”. Não à toa a vitória do apenas divertido “Quem Quer ser um Milionário?” para combinar com a mediocridade da edição. 

Indo nas categorias técnicas, os dois principais candidatos da temporada dominariam os prêmios. 

Apesar de ser nítido como o David Fincher está desconfortável em fazer uma história que exige emoção demais para o cinismo típico dele, “Benjamin Button” é indiscutível nas áreas técnicas, especialmente, Fotografia, Efeitos Visuais, Figurino, Maquiagem e Direção de Arte 

“Quem Quer se um Milionário?” seria premiado onde realmente empolga: Trilha Sonora e Canção Original com grudenta “Jai Ho”. Para Christopher Nolan, restaria se contentar com Edição de Som e Som para “O Cavaleiro das Trevas”. Já em Animação e Filme de Língua Não-Inglesa não dá para mudar o resultado do Oscar, respectivamente, para “Wall-E” e o japonês “A Partida”. 

Falando do filme da Pixar, Roteiro Original iria para ele, apesar de que “Na Mira do Chefe” também fosse uma boa escolha. “Milk”, o real vencedor, nem passaria perto. Já nos adaptados, gosto demais dos ótimos diálogos e do duelo entre os protagonistas muito bem explorado de “Frost/Nixon” 

Basta uma cena com pouco mais de cinco minutos para a Viola Davis ficar na memória do público em “Dúvida”. O dilema da mãe que compreende a acusação, mas, que não quer ver o filho sofrer joga uma complexidade e um novo olhar para a história até então. Seria a primeira de muitas estatuetas. 

Já o Heath Ledger… bem o que acrescentar sobre o Coringa dele em “O Cavaleiro das Trevas”? Uma atuação hipnotizante a ponto de tudo ao redor dele ficar menor – e olha que estamos falando de um ícone pop como Batman e um elenco repleto de estrelas de Hollywood. Sem o Coringa de Ledger provavelmente não haveria o Coringa de Joaquin Phoenix. 

Quem acompanha o canal sabe que eu amo a Kate Winslet, mas, o Oscar de Melhor Atriz por “O Leitor” não me desce. E não acho uma atuação ruim, mas, quando comparo com “Foi Apenas um Sonho”, também na disputa daquela temporada, vejo um abismo. Infelizmente, ela foi indicada pelo filme errado.  

Das opções disponíveis, fico com a Anne Hathaway: “O Casamento de Rachel” é, de longe, o melhor trabalho dela. Uma personagem instável em uma situação peculiar que se tivesse caído nas mãos de uma atriz menos talentosa teria virado uma figura insuportável, mas, que ela sabe conduzir de maneira muito inteligente e emocionante. 

Melhor Ator ficaria com o Mickey Rourke. “O Lutador” é o filme da vida do galã dos anos 1980 em que o personagem e a trajetória dele se misturam. Ele também é beneficiado por um Darren Aronofsky mais contido, compreendendo que a força do longa está naquele homem bestial, mas, sensível. 

Melhor Direção ficaria com Danny Boyle: o estilo de videoclipe adotado pelo britânico de alto vigor estético e uma trilha sonora como parte fundamental da narrativa encontra o universo perfeito em “Quem quer ser um Milionário?”, um filme que só sai do comum graças a ele. 

“Frost/Nixon” é a minha escolha sem maiores convicções em Melhor Filme. Uma produção ágil, direta ao ponto com dois protagonistas excelentes criando um embate inteligente e uma condução, se não perfeita, mas, muito bem encaixada do Ron Howard. Resultado que casa com uma temporada nada memorável.