Caio Pimenta apresenta os seus favoritos para os Oscars de 2010 e 2011, anos das consagrações de “O Discurso do Rei” e “Guerra ao Terror”.

OSCAR 2010

Depois do esnobe a “O Cavaleiro das Trevas”, a Academia resolveu ser mais generosa e abrir a categoria de Melhor Filme para até 10 candidatos. Isso permitiria que obras mais populares chegassem ao prêmio com mais facilidade após o domínio de produções com baixos números de bilheteria. 

E o Oscar 2010 deu sorte, pois, logo de cara teve “Avatar”, mais um feito impressionante de James Cameron. A ficção científica, aliás, na minha premiação, se daria bem nas categorias técnicas. 

Além da óbvia conquista de Efeitos Visuais, “Avatar” também levaria Direção de Arte. O decepcionante “Nine” teria que contentar com Figurino e Canção Original, enquanto “Guerra ao Terror” venceria Montagem, Edição de Som e Som.  

Se o Michael Haneke ficaria feliz com o Oscar de “A Fita Branca” em Fotografia, o austríaco não iria gostar de Filme de Língua Não-Inglesa, pois, eu repetiria a Academia com o argentino “O Segredo dos Seus Olhos”. 

“Up – Altas Aventuras” venceria Trilha Sonora e Animação e, por fim, “Star Trek” conquistaria Maquiagem. 

Indo para os roteiros, a turma dos adaptados não era das mais empolgantes. Poderia optar pelo plot inteligente de “Distrito 9”, mas, fico com o tradicionalismo do Jason Reitman e Sheldon Turner em “Amor Sem Escalas”. É uma comédia dramática sutil, elegante e que consegue equilíbrio difícil entre a melancolia e o bom humor. 

Roteiro Original é sacanagem: o Quentin Tarantino subverte a História (sim, com H maiúsculo mesmo) como somente a ficção e o cinema permitem em uma obra com alguns dos melhores personagens da filmografia dele. Ouso dizer que “Bastardos Inglórios” seja o melhor trabalho dele na função. 

Não cogito fugir de Christoph Waltz e Monique entre os coadjuvantes: são desempenhos para estarem no TOP 10 da história das respectivas categorias. Já em Atriz, não desgosto da Sandra Bullock, mas, minha preferida era a Carey Mulligan em “Educação”. Radiante, ela não sente o peso do desafio e brilha. Performance que a colocou em outro patamar no cinema mundial. 

Entendo o Oscar do Jeff Bridges pela história dele em Hollywood, mas, em Melhor Ator opto pelo George Clooney. Para além do charme do galã, o ator adiciona uma pitada melancólica e cínica ao mesmo tempo, criando um personagem prestes a cair. 

Melhor Direção iria para o James Cameron: claro que o resultado histórico da Kathryn Bigelow é irretocável e fico muito feliz com ele, mas, fico impressionado demais como o Cameron consegue fazer o impossível surgir na tela. Igual George Lucas em “Star Wars”, todo aquele universo de “Avatar” só existe daquela forma, daquela maneira porque existe um maluco que nem ele capaz de lutar para que aquilo aconteça. E como cineasta segue sendo um dos raros a oferecer clímaxes de 1h30 como se estivesse filmando um plano e contraplano tamanha a naturalidade e segurança da condução.  

Mas, se você pensa que escolho “Avatar” como Melhor Filme, sinto muito: meu favorito é “Bastardos Inglórios”. Um filme que abre com a cena mais brilhante já dirigida pelo Tarantino e termina em um ápice do melhor do cinema de ação, suspense e comédia mostra quanto esta é uma obra grande. Foi pouco valorizado pela Academia. 

OSCAR 2011

A Origem, com Leonardo DiCaprio

O Oscar 2011 é um dos meus preferidos dos últimos anos fácil fácil. Uma temporada que traz um dos melhores filmes de David Fincher e Christopher Nolan, a continuação perfeita de um clássico da animação, bons filmes dos irmãos Coen e Darren Aronofsky. Infelizmente, tudo isso para acabar com a vitória do corretinho “O Discurso do Rei”. 

O bom é que eu posso mudar isso, pelo menos, aqui. Nas categorias técnicas, por exemplo, o drama de época do Tom Hooper não levaria nada. 

Sorte de “A Origem”: a ficção científica do Christopher Nolan seria vencedora em Fotografia, Efeitos Visuais, Direção de Arte, Edição e Mixagem de Som. Já “Toy Story 3”, além de Animação, também faturaria Canção Original, enquanto Bravura Indômita seria o ganhador de Figurino. Por total falta de opção, “O Lobisomem” manteria o prêmio de Maquiagem, enquanto “Exit Through the Gift Shop” sobre o misterioso Bansky superaria o importante, mas, monótono “Trabalho Interno” em Melhor Documentário. 

“A Rede Social” começaria a dominar o Oscar 2011 levando Trilha Sonora com o Trent Reznor e Atticus Ross, Montagem e Roteiro Adaptado superando todos os concorrentes sem maiores dificuldades. Diálogos ruins à parte, a engenhosa construção daquele universo de “A Origem” renderia ao Christopher Nolan o prêmio de Roteiro Original bem antes de “Oppenheimer”. Cá entre nós, um vencedor muito mais ousado do que “O Discurso do Rei”. 

A manutenção da vitória da Melissa Leo em Atriz Coadjuvante se deve mais pela completa falta de opções do que por um trabalho brilhante dela por “O Vencedor”. Não desgosto da conquista do Christian Bale com sua entrega física, mas, prefiro o Jeremy Renner em Ator Coadjuvante. Em “Atração Perigosa”, ele é o ponto de desequilíbrio que faz tudo acontecer sempre sendo uma incógnita toda vez que está em cena. Sou muito mais ele aqui do que em “Guerra ao Terror”. 

“Cisne Negro” era um filme para dar o primeiro Oscar para a Natalie Portman e ela aproveita cada segundo. Uma entrega física e dramática absurda mostrando uma personagem perdendo a sanidade mental aos poucos. Já o Jesse Eisenberg superaria o Colin Firth em Melhor Ator. Fazendo o Mark Zuckberg, o astro de “A Rede Social” personifica o egocentrismo de um sujeito brilhante, mas, totalmente sem escrúpulos, disparando uma metralhadora apenas pelo seu jeito de falar. 

O David Fincher encontrou em “A Rede Social” o filme perfeito para trazer seu jeito meticuloso, frio, irônico e cínico. É muito estranho olhar para o Oscar 2011 e ver que o prêmio de Melhor Direção foi para o Tom Hooper.  

Melhor Filme… preciso admitir que “Toy Story 3” é o meu favorito pessoal por ser a conclusão perfeita para uma história que toca a todos, mas, acho que a vitória de “A Rede Social” seria mais simbólica. Considero o filme um prenúncio para aquilo que vivemos hoje e nossa relação problemática com as redes. É a síntese da nossa geração, para o bem e o mal. Fora que prestigiaria um dos melhores cineastas norte-americanos dos últimos 40 anos.