Caio Pimenta apresenta os seus favoritos para os Oscars de 2014 e 2015, anos das consagrações de “12 Anos de Escravidão” e “Birdman”.

OSCAR 2014

Gravidade, com Sandra Bullock

Mesmo com as presenças de “Philomena” e “Trapaça”, o Oscar 2014 teve grandes filmes na corrida, sendo uma das grandes temporadas recentes. Culpa da excelência da dobradinha Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio em “O Lobo de Wall Street”, da ousadia dos planos em sequência de Alfonso Cuáron em “Gravidade”, da competência do Steven McQueen na emocionante adaptação de “12 Anos de Escravidão”, na habilidade de contar excelentes histórias do Alexander Payne em “Nebraska” e da visão certeira do futuro do Spike Jonze em “Ela”. 

Para começar nas categorias técnicas, não tenho como fugir da excelência de “Gravidade”. 

A ficção científica empilharia vitórias com Fotografia, Efeitos Visuais, Montagem, Trilha Sonora e os dois prêmios de som. “O Grande Gatsby” ficaria com as sobras de Direção de Arte e Figurino, enquanto “Clube de Compras Dallas” precisaria se contentar com Maquiagem. 

Canção Original não tem como não ser do hit “Let it Go” de “Frozen”, o qual também ganharia Melhor Animação. E Filme de Língua Não Inglesa não iria para a Itália: jamais que “A Grande Beleza” superaria o dinamarquês “A Caça”, do Thomas Vintenberg, drama brilhante e ainda bastante atual sobre o perigo de fake news antes mesmo do assunto virar moda. 

Crítica: O Lobo de Wall Street

Aliás, sei que a corrida de Melhor Ator estava muito concorrida, mas, o Mads Mikkelsen tinha espacinho entre os cinco finalistas. Já Roteiro Adaptado ficaria nas mãos de “O Lobo de Wall Street”: me agrada demais a verve anárquica do Terence Winter de mostrar como a desgraça de uma população é a farra dos milionários. E isso sem nunca ter um ar condescendente muito menos moralista. 

“Ela” seguiria ganhador de Roteiro Original: um romance estranho, mas, premonitório sobre a interligação do homem com a máquina, a necessidade do amor na vida das pessoas e a solidão.  

Até uns 60%, 70% de “12 Anos de Escravidão”, muita gente se pergunta o que diabos levou a Lupita Nyong’o ganhar Melhor Atriz Coadjuvante. Eis então que chega a cena do açoitamento e você compreende na hora que qualquer outra escolha seria sem sentido. Já em Ator Coadjuvante, troco o Jared Leto pelo Barkhad Abdi. Em “Capitão Phillips”, o ator somali dá a pitada de complexidade a uma figura que décadas atrás seria encarada como um mero vilão, mas, ganha contornos comoventes graças à atuação dele, a qual, diga-se, coloca o Tom Hanks em segundo plano na maior parte do tempo. 

Cate Blanchett em “Blue Jasmine” foi simplesmente covardia com todas as demais candidatas. Fantástica! E o Leonardo DiCaprio, bem, ele levaria mais um Oscar meu em Melhor Ator. Aqui, ele solta o lado Jim Carrey e mostra como até na comédia manda bem. Um intérprete completo. 

Já deu para ver que sou muito fã de “O Lobo de Wall Street”, o que me faria dar o Oscar de Direção para o Martin Scorsese. A energia de garoto está palpável em cada segundo deste filme em que consegue fazer humor sendo extremamente crítico ao mundo paralelo dos donos da economia dos EUA. Como diretor, para mim, este é o melhor trabalho do novaiorquino desde “Os Bons Companheiros”. 

Melhor Filme, entretanto, vai para as mãos de “Ela”. Poucos filmes foram tão simbólicos dos nossos tempos com este romance. Um protagonista que reencontra a vontade de viver ao se apaixonar pela máquina traz um lado belo e melancólico ao mesmo tempo, mas, acima de tudo, um desejo de conectar, comunicar e ser feliz. Para o Oscar, seria um frescor uma ficção científica com romance sair vencedora. 

OSCAR 2015

Depois de um ano excelente, era natural que o Oscar 2015 fosse um pouco abaixo. Isso, entretanto, passou longe de significar um declínio brutal: tivemos uma temporada trouxe nomes estreantes na categoria principal, entre eles, Wes Anderson, Ava DuVernay, Damien Chazelle e Richard Linklater. Ao lado deles a lenda Clint Eastwood e Alejandro González Iñarritu, responsável por consolidar a onda mexicana na Academia. 

Nas categorias técnicas, uma obra querida pela cinefilia seria dominante. 

O preciosismo do Wes Anderson e sua equipe seriam compensados quatro vezes: “O Grande Hotel Budapeste” ficaria com os prêmios de Figurino, Maquiagem, Direção de Arte e Trilha Sonora. “Whiplash” ganharia Montagem e Mixagem de Som, enquanto “Interestelar” sairia premiado com Edição de Som.  

Se Efeitos Visuais iria para Guardiões da Galáxia, o Oscar de Canção Original pararia nas mãos de Uma Aventura Lego e divertida “Everything is Awesome”. Emmanuel Lubezki, de “Birdman”, que me perdoe, mas acho a atmosfera de desconforto de Ida muito mais rica para levar Direção de Fotografia. Resultados também diferentes em Filme Internacional onde venceria o argentino Relatos Selvagens e Animação com belo japonês Conto da Princesa Kaguya. 

crítica Vício Inerente Paul Thomas Anderson Joaquin Phoenix

Inadaptável diziam sobre “Vício Inerente”. Foi lá então Paul Thomas Anderson e deixou toda a loucura lisérgica sem simplificações ou caminhos mais fáceis do romance do Thomas Pynchon. O resultado é uma experiência difícil sim, mas, prazerosa para quem topa o desafio. Meu vencedor fácil de Roteiro Adaptado e bem mais criativo do que a Academia que optou por “O Jogo da Imitação”. 

Não iria de “Birdman” em Roteiro Original: minha opção seria o Wes Anderson. “O Grande Hotel Budapeste” pode até não ser meu favorito dele – “Tenembaums” continua com a medalha de ouro -, mas, novamente, ele demonstra a capacidade única de criar uma gama de personagens interessantes, cada um com tramas relevantes, em meio a um pano de fundo delicado e importante, mas, sem perder a graça e o humor. 

Atores coadjuvantes não tem como mexer: Patricia Arquette como a figura materna tão identificável com todos nós em “Boyhood” e o J.K Simmons simplesmente grandioso e ameaçador em “Whiplash”.

Já em Melhor Atriz, a Marion Cotillard ficaria com o Oscar pela vulnerabilidade da depressão em meio à luta pelo que restou da solidariedade dentro do proletariado no comovente “Dois Dias, Uma Noite”.

Por fim, só resta a eu fazer justiça ao Michael Keaton: “Birdman” marcava o retorno de um ator injustamente colocado em segundo plano por Hollywood em uma história que se cruza muito com a dele em que ele trabalha com muita acidez e inteligência. Por mais que o Eddie Redmayne seja um tipo de atuação com a cara da preferência histórica da Academia, não dava para o Keaton perder aqui. 

“Boyhood” e Richard Linklater fazem a minha dobradinha de Melhor Filme e Direção. A maior beleza que vejo no longa é enxergar o cinematográfico no banal. É ver que a nossa vida – a ida à escola, as turbulências familiares, os primeiros amores – traz uma singeleza mágica que as urgências do dia-a-dia nos impedem de ver. E ter um cara como o Linklater que consegue aprofundar nossos dilemas em situações teoricamente corriqueiras dá a dimensão de quão “Boyhood” é extraordinário para além do feito de ter sido realizado ao longo de uma década.